sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

A fábula revisitada

Foto: João Chaves

Dormia de dia, cantava a noite, a talentosa cigarra, durante todo o verão...
Quando o inverno chegou, trazendo frio, chuva e desolação, a formiga operária, que trabalhara de sol a sol, carregando suprimentos para enfrentar os rigores que viriam, ficara a sorrir da tola esperteza da cigarra, que nada juntara nesse tempo todo.
Porém, a formiga desconhecia todos os cantos e encantos da cigarra, que em sobrevoo sobre o formigueiro, convenceu a grande maioria de que ela tinha tempo e talento suficientes para liderar a todos, precisando continuar livre, leve e solta pra desempenhar com maestria sua nova atribuição.
A formiga operária quis liderar um protesto, mas foi sumariamente presa por ordem da nova líder, a cigarra-mor, que eleita pelas demais formigas, passou a legislar em causa própria, sem que ninguém desse conta.
E naquele bosque em miniatura acontecia incrivelmente em microscópicas dimensões o que nas cidades ao longe outras cigarras e formigas replicavam em maior proporção...
Quando uma formiga dava-se por conta de tudo, e acordava para a vida, curiosamente acabava esmagada supostamente pelos pés ou mãos de meninos gigantes (versão modelo registrada no boletim oficial).
E desde então, cigarras e formigas continuaram a viver em sonolenta comunhão...

Um comentário:

José Antonio Klaes Roig disse...

Oi, Elis. Que belíssima imagem. Tudo a ver com a alegoria proposta. Uhu, essa parceria literária tá pra lá de criativa e original. Um abração,