sexta-feira, 27 de março de 2009

De pai para filho

Foto: Mariah

Meu pai, quando tinha cerca de quatorze anos, quis voar.
Fez um par de asas com armação de bambu forrada com papel celofane. Subiu no telhado de uma casa e de lá se jogou. Voara alguns milésimos de segundo até que a queda livre lhe arremessou contra o chão. O sonho lhe custou fraturas na cabeça, perna e braço... Depois disso, ele tornou-se artista plástico, voando apenas na imaginação, dando asas a seus sonhos com tinta sobre tela.
Eu, filho de sonhador, em sonhador me transformei quase na mesma fase da vida, próximo dos quatorze anos, através das folhas dos livros, verdadeiras asas de papel querendo voar, quando o vento passava ao largo assoviando...
Sei que meu filho também será um dia um legítimo sonhador como seu pai, avô, bisavô..., pois é essa a sina dos homens dessa família, todos descendentes de Dédalo e Ícaro. Todos com seus sonhos particulares de voar. Cada qual com o seu jeito de construir suas asas em torno das casas labirínticas da memória e da imaginação... Quem nunca voou é descendente de Minotauro, e aprisionado em seu labirinto particular pra sempre estará...

4 comentários:

Elis Zampieri disse...

Oi Zé, não sei onde li isso... "Somente o que é simples alcança o requinte". Lembrei dessa frase ao ler seu texto. Acho que é isso mesmo, simplicidade é um caminho seguro. Gosto muito, sempre do que escreve... Deste, especialmente.

Beijos.

José Antonio Klaes Roig disse...

Oi Elis. Essa história retirei do baú da memória. Acho que os bons escritores e poetas são aqueles que usam da simplicidade do cotidiano, para construir um significado para o leitor. Aquele que escreve apenas para si e sobre si, sem essa empatia com o leitor, nunca atingirá esse caminho seguro que você comentou. Adorei a imagem que você ilustrou o texto. Voar não é apenas para os pássaros. Hehehehe. Um abração,

Elis Zampieri disse...

Oi Zé, então...acho que se tem uma coisa que o ser humano inveja é a capacidade de voar dos animais. Talvez por isso fomos compensados como seres alados quando nos expresamos através da arte, da poesia, da literatura, do teatro, enfim...relacionei seu texto à imagem da arte representada pela flor e os pássaros à essa capacidade de alçarmos vôos imaginários.
Abração pra ti também e bom domingo.

José Antonio Klaes Roig disse...

Concordo contigo, Elis. Somos seres alados, e nossas asas são de sonhos. Sem eles, parafraseando Mario Quintana, não temos orientação. Mario disse, algo assim: os sonhos são como as estrelas, a gente quase nunca as alcança, mas sem elas não tem orientação. O verdadeiro artista é aquele que usando as palavras fora de sua forma tradicional, consegue elevar o pensamento às alturas, pela criação. A imagem que usasses é simbólica e muito bonita. Tudo a ver com o texto mesmo. Um abração,