segunda-feira, 11 de maio de 2009

Menino Francisco


Menino Francisco rabiscou uma flor no papel.
_Que é isso menino, flor marrom com folhas azuis?
E a mãe, hábil manipuladora de borrachas apagou o desenho de Francisco e ensinou-lhe o que lhe parecia óbvio:
_Menino tolo, não sabe que flores são vermelhas com folhas verdes?
Menino Francisco aprendeu logo a lição. Passava os dias que lhe escorriam lentos, a desenhar flores vermelhas com folhas verdes. Muitas delas...
Menino Francisco cresceu. Arrumou emprego numa fotocopiadora. Acostumou-se logo a aceitar a rotina das pilhas de papéis à sua frente, cumprimentar os clientes que não raras vezes também eram as mesmas caras, apertar o botão e cobrar alguns centavos pelo trabalho.
Nas horas vagas o moço Francisco dedicava-se à seu passatempo preferido. Pintar telas... Flores vermelhas com folhas verdes.

4 comentários:

José Antonio Klaes Roig disse...

Oi, Elis. Maravilha de texto!!! A vida é assim mesmo: somos fotocopiadores do sonhos de nossos pais. Como é importante que pais e professores tenham essa consciência do exemplo que eles dão (positiva oun negativamente) aos filhos e alunos. Adorei o texto. Vou ilsutrar em breve. Um abração. Zé :-)

José Antonio Klaes Roig disse...

Oi, Elis. Essa imagem que ilustrei teu post, ainda que não seja flor representa simbolicamente a essência do que li em teu texto... Parabéns, tua escrita á fantástica. Um abração, Zé.

Elis Zampieri disse...

Oi Zé, gostei mesmo foi da explicação que você me deu em off a respeito da imagem. Uma célula metabolicamente modificada que resultou no comprometimento das habilidades artísticas do sujeito. Devo ter algumas dessas impregnadas nos meus gens também :-)
Sou péssima nisso... minha criatividade tem outro foco.

Obrigado pelo comentário generoso!
Beijos.

José Antonio Klaes Roig disse...

Não fui generoso nada, amiga. Você que é modesta, Elis. Esse teu mini conto trata em poucas linhas de algo que podemos chamar de genética da opressão. Que acontece em lares e escolas, ás vezes, infelizmente. Quantos alunos, quantos filhos, quandos seres tiveram tolhidos sua visão poética do mundo, por conta de pais, professores, gestores, etc que dizem que a vida é assim e assado, que impedem que se dê vazão à criatividade e a autenticidade. Eu mesmo - apenas um cohicho virtual, não "espalha", heheheheh - quando menino, não tinha muito apoio da minha avó e tia pra ser desenhista e pintor como meu pai... Diziam que aquilo não tinha futuro... Quantas pessoas cresceram frustradas, sendo o exemplo que os outros queriam pra eles, sendo o reflexo das frustrações dos pais? Eu, quando aprendi a ver em meu pai um pouco de mim, aprendi a viver de uma forma também autêntica. Não entendia-o, pois minha ótica era de minha avó, que não o entendia também... Mas um mdia me libertei da própria prisão... Não virei pintor, acabei sendo escritor... E educador, claro. Até brinco: meu pai é escritor das tintas e eu pintor de palavras, mas ambos aprendemos a dar vida aos nossos sonhos, pintando flores ou escrevendo sobre as coisas do jeito que as vemos... Talvez esteja ai a pequena liberdade do artista, que aos Franciscos não é permitido... hehehehe, um texto profundo o teu, que dá pra diversas interpretações... Toda vez que escreves literatura eu percebo possibilidades de releituras educacionais. Continue sempre assim, filosófica em conta-gotas. hehehehe Um abraço amiga, é um privilégio poder ser seu colega nesse projeto chamado Rápido Movimento do Olhar... ;-)