quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

O primeiro cadáver do Azevedo


O suor escorria-lhe a face, as mãos ainda trêmulas, a respiração arquejante. Era seu primeiro, mas sabia, não seria o único. O desejo manisfestara-se incontrolavelmente tentador. Nenhum sentimento de culpa. Era prazer o que sentia. As mãos quentes sujas de sangue contrastando com o álgido corpo delgado que jazia em sua frente. O líquido viscoso escorrendo formara uma poça sobre o piso branco de linhas perpendiculares.

A sala de pintura sóbria, a cortina preta, o compartimento escuro... Pelas frestas da parede, alguns poucos raios do sol que já ameaçava se por, iluminavam de maneira desuniforme o local.

Olhou para os lados certificando-se de que ninguém testemunhava o ato. Eram três. Ele, o cadáver, e um silêncio absurdo transbordando no vácuo, interrompido apenas pelo som das batidas do martelo.

Ajeitou-o com cuidado sobre a mesa. Os olhos fechados, o cabelo arrumado, a pele limpa com um chumaço de algodão. E um ritual cumprido.

Olhou para o corpo inerte. Lembrou da promessa feita ao pai pouco antes de sua morte. Seria advogado.

Ele haveria de entender. Afinal herdara dele próprio esse gosto. Seria mais um Azevedo, agente funerário.

5 comentários:

José Antonio Klaes Roig disse...

Elis, teu conto trouxe o suspense e o efeito de surpresa ao final, que ficou demais...
Achei uma imagem para ilustrá-lo no endereço abaixo:
http://spotofpeterthoughts.blogspot.com/2007_08_01_archive.html
Bah, amiga, gostei da surpresa e da condução da trama.
Espero que gostes da imagem.
Um abração e bom findi. Zé

Elis Zampieri disse...

Oi Zé! gostei sim, e to gostando muito dessa brincadeira também. São várias releituras que fazemos, tentando captar o pensamento e a intenção do outro.

Bah! To adorando! :-)
Bom final de semana pra ti também.

José Antonio Klaes Roig disse...

Nem me fale Elis, eu também to gostando desse intercâmbio literário, em que ora somos escritores, ora leitores um do outro. A cada releitura percebemos as nuances do texto do outro e temos que encontrar uma imagem que ilustre essa interpretação. Como vc falou noutro comentário, dá pra fazer do R.E.M. um piloto para projetos educacionais. Legal d+.
Bom findi, e diz pro Marquinho torcer pro Inter no Grenal. hehehehe, Saudações coloradas.

Gabriela Borges disse...

A surpresa no final! Interessante, pensei que era um assassino rsrrs

Elis Zampieri disse...

Oi Gabriela. Era essa a intenção. Obrigado pela visita, leitura e comentário.