sexta-feira, 6 de março de 2009

Sobre Flores e Jardins


(Foto de Maria Fernanda P. Barreira, do Flickr)

Dirijo-me para o canteiro colorido monocromaticamente pelo amarelo das sempre vivas, descansando meus olhos sobres elas.
Quando criança inquietava-me o fato de as sempre vivas não morrerem.
Hoje compreendo. Elas morrem, mas insistem em manter algumas de suas características vivas como a cor, por muito tempo e apesar da textura seca e do pouco viço, confundem-se facilmente com outras espécies vegetais vivas.
Não são portanto, sempre vivas, são mortas-vivas que à exemplo de algumas espécies racionais desistem de si mesmas, abandonam-se, morrem vivos... Perdem o viço, o brilho, a energia, o desejo, o lirismo.
Trabalham, andam, conversam e se comportam como robôs pré programados desprovidos de prazer, euforia ou entusiasmo. Ora, uma obrigação de quem está vivo. Mantêm a estrutura e sofrem de falência interna.
Sempre vivas são flores artificiais. Ao contrário destas, algumas espécies sabem que precisam morrer verdadeiramente infinitas vezes para tornar-se vida. Assim, não retardam esse momento.
No jardim da casa de minha mãe, havia uma flor, chamada onze horas. Durante a maior parte do tempo mantinha-se fechada, parecendo morta. Mas quando o sol atingia o auge de sua intensidade, desabrochava todo seu encanto, perfume e beleza. Morria e renascia um pouco a cada dia.
Acho que quando Deus criou o mundo desejou um grande canteiro de onze horas. Mas no meio delas, assim como ervas daninhas que nascem sem ninguem semear, germinaram sempre vivas. Um dia, talvez elas entendam que precisam assumir a morte, para transcenderem.

3 comentários:

José Antonio Klaes Roig disse...

Oi, Elis, teu belo e poético texto remeteu minha imaginação a um pequeno universo multicolorido, como a imagem acima que capturei no Flickr para ilustrar tua produção. Sempre viva é também o nome de uma famosa jogada no xadrez, sabias? Descobri por acaso, quando comecei a escrever no RPG Literário, hehehehe. Um abração, amiga e feliz fim de semana.

Elis Zampieri disse...

Oi Zé,a imagem ficou perfeita para a metáfora que construí. Sobre a jogada de xadrez nao conhecia não. Pra falar a verdade não entendo nada de xadrez.
Beijão e bom fim de semana para você também.

José Antonio Klaes Roig disse...

Elis, que bom que gostasses da imagem. Quando fui lendo teu texto e depois na releitura foi me abrindo novos horizontes... Um texto bem escrito é assim, não fica fechado em si mesmo e faz o leitor viajar em si mesmo...
Qto ao xadrez, sei apenas movimentar as peças. Nunca joguei partida contra ser humano. hehehehehe. Contra o computador - longe de ser o Deep Blue, Azul Profundo que derrotou Kasparov, o genio do xadrez!!! - eu sempre perco.. Tb pudera. kkkk
Um grande abraço e bom findi. Zé.