terça-feira, 15 de setembro de 2009

Dois pra lá, dois pra cá


Imagem: Benjamin Lacombe

E era pela janela que os olhos miúdos sonhavam. Ajoelhada aos pés da cama quase encostada sobre a abertura retangular protegida pela rigidez do vidro, ela acompanhava o movimento das pessoas do lado de fora. Ouvia a música também. Era dia de baile. Ela gostava de baile. Mas tinha sete anos. E meninas de sete anos não vão a bailes - o pai dizia. Ela fora, uma única vez.
Gostava de acompanhar o ritual em que o rapaz um pouco tímido tentava encontrar entre as inúmeras moças presentes a que lhe faria par naquela dança. Corria os olhos pelo salão até que finalmente encontrava. Tomava um gole de uma bebida qualquer, talvez para ganhar coragem e finalmente dirigia-se à ela. Estendia-lhe a mão, ela sorria enquanto era conduzida ao centro do salão e dançavam lindamente, as vezes a noite toda.
As palmas a trouxeram de volta. O pai havia cumprido a promessa. Um lindo baile quando completasse quinze anos. O moço não ficou tímido quando a tirara pra dançar. Fora contratado pelo pai. Dançariam três músicas, nem uma a mais pra não atrasar o rapaz, a primeira, uma valsa. Estava tudo preparado: a hora, os passos, o olhar, o sorriso, até o beijo. Coisa sem graça - ela pensou, enquanto a música começava a tocar. Eram dois prá lá, dois pra cá.

2 comentários:

José Antonio Klaes Roig disse...

Cara Elis, a vida é bem assim, metaforicamente falando: uma contradança de emoções e contradições. Ma sé bonita e é bonita, por isso mesmo.
Belíssimo texto, escrito como se fosse um filme. Adorei. Abração!

Elis Zampieri disse...

Zé, a imagem caiu perfeita e é linda. Você como sempre captando muito bem a a essência do texto. Isso de certa forma é mérito também do escritor que consegue transpor nas letras o sentimento que traz ao escrever, e isso serve pra gente como uma espécie de feedback. Adorei.
Bjos